quinta-feira, 29 de julho de 2010

Diário de Douglas S01E03 - 1984: Ignorância é Força


Sexta-feira, 29 de julho de 2016 (se é que estamos mesmo em 2016).

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Olá, despessoas.

Tenho o orgulho de trazer a primeira resenha de um livro aqui no "Diário de Douglas". E é de um livro que, na minha opinião e na de outras pessoas também, deveria ser lido por todos os integrantes do planeta Terra, principalmente nos tempos de hoje: 1984, de George Orwell. Vou tentar ao máximo não dar spoilers.


1984 é um romance distópico (assim como Laranja MecânicaFahrenheit 451 e Admirável Mundo Novo) escrito pelo inglês, que nasceu na Índia, George Orwell. Agora vocês me perguntam: "o que raios é um romance distópico?", e eu lhes respondo, jovens Padawans: distopia, oposto de utopia, é uma descrição de uma sociedade futura caracterizada por condições de vida insuportáveis, geralmente comandada por um governo totalitarista e ditatorial.

O livro é considerado um dos mais importantes romances do século XX, foi escrito entre 1947 e 1948 e publicado originalmente em 1949 (um ano antes da morte do autor, diga-se de passagem). Sua história se passa no ano de 1984 (sério!?), que naquela época era um futuro distante para Orwell. 

Há duas traduções do livro aqui no Brasil, eu li a mais atual, publicada pela Companhia das Letras.

O MUNDO EM 1984

O mundo está dividido em três impérios: a Oceância, a Lestásia e a Eurásia, que dominam todo o território terrestre (exceto uma área central da Terra, que está sempre em disputa) e estão em guerra desde sempre.

O mundo em 1984 e os territórios pertencentes à Oceânia, à Eurásia, e à Lestásia (Eastasia).
Assim como a área em disputa.

A Oceânia, onde se desenvolve o enredo do livro, é governa pelo Partido, que tem seu líder na figura do Grande Irmão, Big Brother no original (sim, é daqui que veio a inspiração para o reality show e vocês vão entender o porquê). Na verdade, o Grande Irmão é o Partido e o Partido é o Grande Irmão. E, como os cartazes espalhados por toda a cidade fazem você se lembrar, "O GRANDE IRMÃO ESTÁ DE OLHO EM VOCÊ".

É incrível como o que Orwell "previu" para 1984 tardou, mas não falhou. A frase supracitada não é brincadeira ou apenas um slogan. O Partido realmente está de olho em você 24 horas por dia, por meio das teletelas: dispositivos que, além de enviar notícias o tempo todo sobre o que estava acontecendo em Oceânia (ou, pelo menos, o que o Partido desejasse que você soubesse que estava acontecendo), filmavam e gravavam tudo que os cidadãos faziam e falavam. As teletelas estavam presentes em todos os lugares, principalmente dentro das casas, e não podiam ser desligadas (entendeu o porquê do Big Brother?).

Você até pode pensar que isso é invasão de privacidade e é diferente da nossa realidade, mas pense bem: será que não existe nenhuma teletela próxima a você nesse exato momento, sob o formato de um smartphone ou um computador? As câmeras de segurança não filmam você o tempo todo? E será que tudo que você faz ou fala não está disponível nas redes sociais para todos verem?

Os únicos que não eram controlados o tempo todo eram os membros do Partido Interno, que estavam abaixo apenas do Grande Irmão, e os Proles, o proletariado, que eram tão ignorantes e insignificantes que não necessitavam ser monitorados pelo Partido. Novamente, traçando um paralelo com nossa sociedade: apenas a classe média tinha "acesso" às teletelas.

IGNORÂNCIA É FORÇA

O slogan do Partido é: "GUERRA É PAZ, LIBERDADE É ESCRAVIDÃO, IGNORÂNCIA É FORÇA". Mais atual impossível. A guerra faz com que a população se una em prol da causa nacionalista e elimine as possibilidades de uma guerra civil. Em 1984 sempre houve guerra e sempre haverá guerra (até parece com uma nação da atualidade, não é mesmo Estados Unidos?).

O slogan do Partido, juntamente com os cartazes afixados por todos os lugares: mostrando a figura do Grande Irmão.

Todo o contexto socio-político-econômico é explicado, com riqueza de detalhes, pelo autor dentro do próprio livro. Então, vou deixar vocês lerem (sério, leiam) e compreenderem por si só. Porém, tenho que falar da "IGNORÂNCIA É FORÇA", pois é de extrema importância.

A Força do Partido estava justamente na Ignorância da população. Os cidadãos de Oceânia não tinham acesso a livros e escrever era "proibido". Todas as notícias eram, literalmente, construídas pelo Partido e contavam com revisões constantes para alterar possíveis erros, principalmente em edições passadas. Assim, tudo que o Partido falou, fala e falará deve ser tido como verdade absoluta e todos os documentos que pudessem provar o contrário eram destruídos. A única forma de alguém ter um conhecimento ínfimo de que o passado não foi como o Partido disse que fora era por meio de sua memória, que também era manipulada. Outro slogan dizia que "QUEM CONTROLA O PASSADO CONTROLA O FUTURO; QUEM CONTROLA O PRESENTE CONTROLA O PASSADO".

Na verdade, não existiam leis, porém todos tinham consciência do que podiam ou não fazer, falar ou pensar. Caso alguém fosse pego pela Polícia das Ideias com algum pensamento contrário à infalibilidade do Partido, era "vaporizado" e toda e qualquer citação àquele indivíduo era eliminada completamente da história. Logo, a pessoa não mais existia, nem nunca existira. Tornara-se uma despessoa. A ausência de leis garantia a total soberania do Partido.

NOVAFALA

Até onde se sabe, não existiam meios pelos quais o Partido pudesse ler os pensamentos das pessoas. Porém qualquer ação, gesto ou, até mesmo, ato involuntário (espasmos ou falar dormindo, por exemplo) que representasse um pensamento fora dos padrões, era tido como um pensamento-crime.

Os termos "pensamento-crime", "teletela" e "despessoa" era termos da Novafala (ou Novilíngua na outra tradução). A Novafala era o idioma que estava sendo implementado na Oceânia, como forma de limitar ao máximo o pensamento das pessoas. Na contramão das demais línguas existentes no mundo, o vocabulário da Novafala diminuía a cada nova edição de seu dicionário, eliminando todas as palavras que pudessem ocasionar um pensamento-crime. Se não houvesse palavras para descrever um determinado pensamento, aquele pensamento seria impossível de ser pensado. Esse era o pensamento do Partido.

Muitas palavras eram abreviadas (alguma semelhança com a Internet?) e outras condensadas, como forma de eliminar o significado das duas ou mais palavras separadamente. Por exemplo, o Partido era paltado no "Socialismo Inglês" ou, em Novafala, Socing. Socing não significava a junção de duas palavras, no caso, "Socialismo" e "Inglês", Socing significava Socing, algo único.

Logomarca do Ingsoc (Socing).
Inclusive obras de grandes escritores, como Shakespeare e Lord Byron, estavam sendo traduzidas para a Novafala. Desta forma, não poderiam despertar nenhum pensamento errôneo em quem, por ventura, as lessem.

A livro 1984 possui um apêndice, onde George Orwell descreve toda a gramática da Novafala. É muito interessante lê-lo e descobrir como ele pensou tal qual um membro do Partido ao criar a Novafala.

DUPLIPENSAMENTO

Um dos vocábulos mais importantes da Novafala é "duplipensar". Duplipensamento é, segundo o próprio autor, "[...] Saber e não saber, estar consciente de mostrar-se cem por cento confiável ao contar mentiras construídas laboriosamente, defender ao mesmo tempo duas opiniões que se anulam uma à outra, sabendo que são contraditórias e acreditar nas duas. [...]".

Em outras palavras (as minhas), duplipensamento é a capacidade de aceitar duas ideias totalmente opostas. No contexto do livro consistia em aceitar tudo o que o Partido pregava, mesmo, lá no fundo, sabendo que não era correto. Inclusive, se o Partido dissesse que 2 + 2 = 5, então o duplipensamento faria você tomar essa afirmação como verdade absoluta. Como o protagonista do romance, Winston Smith, escreve em seu diário: "liberdade é a liberdade de dizer que dois mais dois são quatro.".

Assim, o duplipensamento era essencial para o controle do Partido sobre as pessoas. Então, nada mais justo que existir uma palavra específica em Novafala para isso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Bem, já escrevi demais (está parecendo um artigo científico, ou um textão do Facebook). Não dá pra destrinchar todo o livro aqui, mas procurei escrever o essencial, sem dar nenhum spoiler do enredo, desta obra magnífica e igualmente complexa que eu considero o melhor livro que li até hoje.

Ainda fico boquiaberto com como Orwell conseguiu imaginar um mundo tão próximo do nosso há 70 anos! Ele viveu o período da Segunda Guerra Mundial e se baseou, principalmente, em governos ditatoriais como o Nazismo e o Stalinismo.

Porém, apesar de ser uma obra complexa, as pouco mais de 400 páginas (incluindo apêndice e posfácios) são muito fáceis de ler e a história é realmente envolvente e, ao mesmo tempo, intrigante. Na minha opinião, 1984 deveria ser um livro lido nas escolas, pois dá suporte à compreensão do nosso mundo no século XXI. Leiam! Principalmente para não tornar a vossa ignorância a força dos outros!

Um efusivo abraço,
Doug Álisson.

PS.: Espero que tenham gostado. Quaisquer críticas, sugestões de novos livros, séries e filmes, e/ou correções para alguma besteira que eu tenha escrito, serão sempre bem-vindas.

1 Frase em Novafala ordenando a alteração de uma reportagem de uma edição passada do jornal do Partido.

Para ler os episódios anteriores, clique aqui.


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